Manuel C. Furtado Mendes, (PhD, em Museologia)
junho de 2020
Na minha tese de doutoramento, intitulada “O uso de Energias Renováveis em edifícios de Museus”, atribuí às instituições museais uma responsabilidade no âmbito da Sustentabilidade Ambiental.
Posicionei-me teoricamente no campo da Museologia Social e da Sociomuseologia, que colocam o ser humano integrado no meio ambiente considerado este como património. Segundo esta abordagem museológica, a preservação e a sustentabilidade ambiental são responsabilidades que podemos imputar aos museus.
Por outro lado, defendi que o entendimento do Ambiente e do próprio Planeta Terra como Património a preservar, relaciona-se com a necessidade de criar uma consciência coletiva da existência de uma história da Terra ou “memória da Terra” (Póvoas e Lopes, 2001) e da necessidade de a preservar.
Esta Memória da Terra leva-nos a considerar o nosso Planeta como um “Museu global” (Scheiner, 2000, s/p) em que o património comum a preservar é o próprio Planeta.
Este Museu global, vinculado ao conceito de memória da terra ou da biosfera, inclui as relações entre “massa e energia, no tempo, em complexidade e influenciando todos os processos de vida no planeta” (Scheiner, 2000, s/p).
Neste Museu global, o Ser Humano confronta-se com a sua real dimensão de Ser biológico e como parte integrante desses processos. Neste contexto, as quatro dimensões da sustentabilidade – ambiental, cultural, económica e social – fazem todo o sentido no campo Museológico.
Os Museus enquanto instituições que têm uma função de preservação – independentemente de se tratar de Museus que lidam com coleções materiais, coleções imateriais, ou de Museus que lidam com o social e a comunidade – devem servir de exemplo no que respeita à forma de contribuir para a sustentabilidade global.
A Sustentabilidade tal como é aceite hoje, centra-se em 4 dimensões: a dimensão espaço-tempo e duas dimensões conexas: a ética e a epistemológica.
No trabalho que tenho desenvolvido recentemente, tenho estado a sistematizar um conjunto de indicadores de medida da sustentabilidade em museus, que possam ser aplicados a qualquer museu, com as devidas adaptações.
Adotei como referência o documento intitulado “Marco Conceptual Comum sobre a Sustentabilidade” (2019) produzido pelo programa Ibermuseus que, em minha opinião, reflete sobre a particular realidade museológica do espaço Iberoamericano.
De acordo com o Marco Conceptual Comum sobre a sustentabilidade, os Museus e Processos Museais sustentáveis são aqueles que se comprometem com a sustentabilidade nas dimensões ambiental, cultural, social e económica, promovendo uma gestão que responda às necessidades do seu envolvimento e que valorizem o património museológico para as gerações presentes e futuras.
Os Museus e Processos Museais sustentáveis preocupam-se com a sua função social, de caráter transformador, com objetivos e metodologias para o desenvolvimento integral de ações que incidam positivamente nas dimensões cultural, social, ambiental e económica. São pro-ativos e estabelecem laços com o seu envolvimento, a fim de inter-relacionar as quatro dimensões, mantêm uma reflexão sobre elas e propiciam a participação dos cidadãos, com especial atenção ao contexto histórico.
A sustentabilidade é concebida como um processo de melhoria contínua, considerando as características e diferentes situações de origem dos museus.
O quadro conceptual do Ibermuseus define as 4 dimensões da sustentabilidade em museus (pp. 38 a 43):
Se a sustentabilidade como objetivo é consensual, tal não acontece com a definição do conceito devido à expansão da sua utilização em diferentes áreas políticas e sociais.
Alguns autores afirmam que há falta de clareza na definição de sustentabilidade e do objeto a ser sustentado; outros apontam uma certa dificuldade na aplicabilidade do conceito que funciona em termos teóricos mas não em termos práticos; outros ainda criticam a superficialidade dos usos e de interpretação do conceito, associado a uma “moda”.
Se estabelecermos que estas são as áreas em que cada museu pode operar para alcançar a sustentabilidade global, ficamos aptos a estabelecer os indicadores de medida.
Esta proposta de indicadores não é um modelo fechado. É apenas um exemplo que cada museu pode adaptar consoante as suas necessidades de autoavaliação.
Para a avaliação da Dimensão Ambiental em Museus proponho os seguintes indicadores:
Para a avaliação da Dimensão Cultural em Museus os indicadores propostos são:
Para a avaliação da Dimensão Económica em Museus defini os seguintes indicadores:
E finalmente, os Indicadores para a Dimensão Social em Museu são:
A minha abordagem à sustentabilidade ambiental tem tido um foco principal na utilização das energias renováveis em edifícios de museus ou culturais. E por isso, gostava de chamar a atenção para os tipos de energias renováveis passíveis de serem utilizadas com facilidade em qualquer edifício de museu ou cultural, sendo elas: a Energia eólica, a Energia solar fotovoltaica, a Energia solar térmica e a Energia geotérmica de superfície (Furtado, 2011):
– Energia eólica: que é uma fonte energética proveniente do vento. Para a sua captação apenas necessita de existir um espaço livre onde possam ser colocados alguns Aerogeradores (Equipamento que transforma o vento em energia elétrica);
A velocidade do vento deve fazer-se sentir com regularidade e com uma velocidade mínima;
– Energia solar fotovoltaica: em que o sol é utilizado através de painéis ou módulos solares fotovoltaicos para produzir energia elétrica.
É aquela que, com maior facilidade, face ao elevado desenvolvimento técnico dos meios de captação, se pode adaptar a múltiplos tipos de aplicações em qualquer tipo de edifício, usando: sistemas fotovoltaicos fora do edifício em espaço livre; ou, sistemas fotovoltaicos integrados nos elementos construtivos dos edifícios.
Ambas para obtenção de energia elétrica.
E:
– Energia solar térmica: em que através da utilização de painéis solares térmicos, o sol é aproveitado para o aquecimento de águas que, podem ser usadas para fins sanitários ou outros.
A tecnologia solar térmica encontra-se bastante desenvolvida, tendo por isso um elevado rendimento, o que permite uma elevada produção autónoma de água aquecida durante uma grande parte do ano.
– Energia geotérmica de superfície: que provém das temperaturas estáveis existentes no interior da Terra:
A baixa profundidade permite-nos obter o calor ou o frio necessários para alimentar um sistema de aquecimento e/ou arrefecimento em qualquer espaço ou edifício;
É um sistema que necessita consoante a área a climatizar, de uma quantidade variável de circuitos fechados formados por tubagens individuais que incluem sondas térmicas onde circula um líquido inofensivo e ecológico (água mais anticongelante) ligados a bombas de calor geotérmicas.
Ambas para a produção de águas quente e fria, servindo para os consumos sanitários e aquecimentos ou arrefecimentos de diversos espaços.
Termino aqui esta apresentação muito sucinta de um trabalho sobre sustentabilidade, com destaque para os indicadores de medida da sustentabilidade em museus e para as algumas energias renováveis que, com facilidade podem ser usadas nos museus, contribuindo diretamente e significativamente para a sua sustentabilidade ambiental e económica.
Bibliografia:
AAVV. (2019). Marco Conceptual Común en Sostenibilidad de las Instituciones y Procesos Museísticos Iberoamericanos , Marco Conceitual Comum em Sustentabilidade das Instituições e Processos Museais Ibero-Americanos. Edição Programa Ibermuseus.
Furtado Mendes, M.C. (2011). O uso de energias renováveis em edifícios de museus. ULHT: Lisboa. Tese de doutoramento em Museologia.
Póvoas, Liliana; Lopes,César. (2001). Construir uma memória da Terra para o futuro. In: XIII Jornadas sobre a Função Social do Museu. Alcoutim e Tavira. Texto policopiado.
Scheiner, Tereza. (2000). Museu: génese, ideia e desenvolvimento. In: Curso fundamentos da Museologia teórica e aplicada. Lisboa: ULHT. Texto policopiado.__
Manuel Cardoso Furtado Mendes é Doutor em Museologia (ULHT), é professor na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Atua nas áreas de Engenharia e Tecnologia com ênfase em Engenharia Civil e Ciências Sociais com ênfase em Outras Ciências Sociais. Dentre outros temas nas áreas científica, tecnológica e artístico-cultural, dedica-se à pesquisa em Sustentabilidade Ambiental e Sociomuseologia.
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