Renata Motta fala sobre o Passaporte e outras ações inspiradoras dos museus de São Paulo

Postado em: 2 de setembro de 2014 | Notícias

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Foto: Museums Showoff

Logo antes do Museums Showoff: RIO, entrevistei Renata Motta, Coordenadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico da Secretaria de Estado da Cultura de Sâo Paulo. Falamos sobre o Passaporte de Museus, sustentabilidade, tecnologia e ações apaixonantes como a “Mostra de Museus”, evento de um dia em um parque público da cidade, em que os 18 museus da SEC se apresentam em tendas.

São Paulo trilha um caminho que podemos chamar, no mínimo, de inspirador.

1. Uma inRenata Mottaiciativa muito comentada nos últimos meses foi a criação do Passaporte de Museus. Como surgiu a ideia e qual a maior dificuldade enfrentada para torná-la realidade?

O Passaporte de Museus é uma iniciativa da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo (SEC), que concede uma entrada grátis para cada um dos 18 museus vinculados à SEC, no período de um ano. A iniciativa surgiu a partir de discussões do Comitê de Educação da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico (UPPM). O Comitê é um espaço de elaboração de propostas e debates voltados a ação educativa em museus, coordenado pela Cristiane Santana (que integra a equipe da UPPM) e com a participação de profissionais dos museus vinculados à Secretaria da Cultura.

O Passaporte de Museus atende a diretriz da Secretaria da Cultura de ampliação e diversificação de acesso aos bens culturais. Além do desconto do valor do ingresso, trata-se de uma ação articulada de divulgação e de mobilização de público. O formato de passaporte, convidando para uma viagem em 18 museus diferentes, somada à atração da gratuidade, transformou a ação em um grande sucesso.

A maior dificuldade enfrentada para a execução do Passaporte foi a mobilização de recursos financeiros. Como na UPPM não há orçamento previsto para ações de comunicação, buscamos a parceria da área de comunicação do Governo do Estado. A operacionalização da ação também demanda atenção, tanto na definição da tiragem adequada, quanto na forma de distribuição, articulando todos os museus participante. No final, trata-se de uma ação simples e viável e será muito bacana vê-la replicada em outros estados.

2. O tema do Dia Internacional de Museus em 2014 foi “Museus: coleções criam conexões”. Que ações a UPPM / SEC está implementando para estreitar essas relações?

Ações articuladas entre museus produzem ótimos resultados! No último ano, além do Passaporte de Museus, a UPPM/SEC realizou outras duas iniciativas de integração e conexões dos 18 museus vinculados à Secretaria da Cultura.

A primeira foi o alinhamento do dia de gratuidade aos sábados. Anteriormente, cada museu tinha um dia gratuito, alguns durante a semana e outros aos finais de semana. Na perspectiva de atender a diretriz de ampliação de acesso, entendemos que a gratuidade deveria ser alinhada em um único dia e concedida aos finais de semana. Após discussões com os 18 museus, foi definida a gratuidade aos sábados, gerando, em alguns casos, significativo aumento de público.

A segunda iniciativa foi a Mostra de Museus. Trata-se de evento de um dia em um parque público da cidade, com a participação dos 18 museus. A Secretaria da Cultura monta toda a infraestrutura, com uma grande tenda com espaços individualizados dos museus e espaços comuns para atividades. Os museus são responsáveis pela montagem do seu espaço institucional e os setores educativos elaboraram, de forma integrada, uma agenda de atividades para públicos de todas as idades. Na primeira edição, realizada em novembro de 2013, a Mostra de Museus contou com 5.000 visitantes.

Vale também mencionar as ações do Sistema Estadual de Museus – SISEM-SP. O SISEM-SP conta com um grupo de Representantes Regionais, que são eleitos a cada dois anos no Encontro Paulista de Museus. A partir do trabalho com os Representantes Regionais, podemos citar três projetos que estabelecem conexões entre museus:

1) Orla Cultural, que articula os museus da Baixada Santista;

2) Trilha Cultural, que articula os museus da cidade de Taubaté; e

3) Projeto de Curadoria Coletiva, que articula os museus do Sudoeste Paulista.

3. Ser sustentável é um dos maiores desafios dos museus contemporâneos. Há solução para fechar essa conta?

No Brasil, a discussão de sustentabilidade ainda tem um grande foco no aspecto orçamentário e é uma conta difícil de fechar. Nas últimas décadas, os museus movimentaram-se positivamente na melhoria da infraestrutura, na qualificação técnica das equipes e no aumento de público. Esse processo também define um aumento de custo, que com o nosso histórico de grande dependência dos recursos públicos e, em muitos casos, a baixa estruturação institucional para ações de parceria, captação de recursos, mobilização de doações e obtenção de recursos operacionais (venda de produtos, cafeteria, cessão de espaço etc.), pressiona cada vez mais os nossos museus.

Nesse sentido, a profissionalização da gestão dos museus, com atualização continuada de seus gestores é um aspecto crítico e importante dos museus brasileiros hoje. Internacionalmente, também observamos uma preocupação nessa direção, tal como indicado no programa Global Museum Leaders Colloquium. O GLMC é um programa imersivo do The Metropolitan Museum de Nova York, que seleciona diretores e gestores públicos da área de museus para troca de ideias e experiências. Tive a oportunidade de ser a representante brasileira no GLMC 2014, compartilhando experiências com colegas de 13 países diferentes e contribuindo na construção de uma rede internacional de gestores de museu.

4. Em que medida a realização de parcerias internacionais com museus e universidades é relevante para o aprimoramento dos museus brasileiros? A UPPM / SEC investe nessas parcerias?

As parcerias com universidades são uma diretriz estratégica da UPPM, na perspectiva de fortalecimento e ampliação das áreas de pesquisa dos museus da Secretaria da Cultura. O Museu do Futebol constituiu o seu Centro de Referência do Futebol Brasileiro, com parceria importante com a Universidade de São Paulo, por meio do Núcleo de Antropologia Urbana (NAU) e recursos da FINEP. A pesquisa integra a cadeia operatória museológica e deve ser priorizada e fortalecida por meio de parcerias. A UPPM também tem realizado parcerias importantes para realização de seminários e publicações de referência, com o Programa de Pós-Graduação em Museologia da USP e com o ICOM Brasil.

As parcerias internacionais também estão no foco da UPPM, em especial na perspectiva de intercâmbio de experiências e capacitação profissional. A Secretaria de Cultura e o British Council, no âmbito do Programa Transform, assinaram um protocolo de intenções, que inclui o desenvolvimento de ações de cooperação entre os museus brasileiros e britânicos até 2016.

Alguns museus maiores e mais estruturados da Secretaria da Cultura, como a Pinacoteca do Estado, já possuem área de relações internacionais consolidada, com diversas parcerias internacionais em andamento. A exposição de Mira Schendel, atualmente em cartaz, é uma parceria da Pinacoteca com a Tate Modern, Londres e Fundação de Serralves, Porto.

5. Hoje, a tecnologia digital é parte da vida diária do visitante. Como os museus do estado de São Paulo respondem a isso?

Já melhoramos muito, mas ainda estamos dando os primeiros passos! Eu trabalhei alguns anos na área de cultura digital e tenho uma visão bastante crítica em relação a apropriação da tecnologia digital nos nossos museus de São Paulo. Estamos ainda no estágio de atualização dos sites institucionais – buscando interfaces mais amigáveis e sistemas mais ageis – e consolidação da presença nas redes sociais. Ainda erramos muito com a linguagem utilizada, a velocidade de atualização, a forma de interação com os internautas e, principalmente, no conteúdo limitado disponível.

Eu digo que isso é apenas a ponta do iceberg, frente as potencialidades e os benefícios que as tecnologias digitais podem trazer para os museus. Há, é claro, ações muito interessantes em andamento como a parceria do Google Art Project com vários museus e o desenvolvimento de vários apps, disponibilizando os museus diretamente no celular. Mas, gostaria muito de ver ampliadas as iniciativas de disponibilização de conteúdo em múltiplas plataformas e, principalmente, avançarmos na disponibilização web dos nossos acervos.

Renata Motta é Doutora pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAU/USP. Desenvolveu atividades didáticas em história da arte e gestão cultural, na Escola da Cidade e na PUC-SP. Desenvolve pesquisa na área de museus e patrimônio, com foco nos aspectos de política pública e de gestão de instituições culturais. Entre 2011 e 2013 foi Diretora do Sistema Estadual de Museus (SISEM-SP) e desde maio de 2013 é Coordenadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo. É associada ao ICOM – Conselho Internacional de Museus e membro do Conselho Deliberativo 2013-2015 da Associação de Amigos do Centro Cultural São Paulo. Em 2014 foi selecionada para o Programa “Global Museum Leaders Colloquium” no The Metropolitan Museum of Art.

Fonte: Claudia Porto

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