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Quando o Educativo vira exposição

Resumo

Vários métodos de ação educativa podem ser aplicados em museus, até mesmo o método da intervenção do público a cada visita, com a possibilidade de se ampliar o acervo e dados sobre a exposição realizada pelo Museu Histórico e Pedagógico Dr. Washington Luis sobre a história do negro em Batatais. Assim aconteceu com a atividade denominada Fragmentos do Negro em Batatais, em que o público era parte do estudo e também colaborador no fornecimento de novos dados à equipe do museu.

Palavras­‑chave

Ação educativa; História do negro; Intervenção.

“A escola brasileira ignora tanto a África quanto os afrodescendentes. A sociedade brasileira, quando não os ignora, os olha com suspeita. Depois de passar toda a infância invisível nos livros escolares, ao entrar na adolescência esses jovens se tornam suspeitos em potencial.”

Oswaldo Faustino

Reflexões diante de um espelho sem reflexo

Apresentação

Em pequenos museus, dificilmente temos equipes multidisciplinares para as diferentes atividades que envolvem uma exposição. Na maioria das vezes, a mesma equipe desenvolve todas as etapas, desde a escolha do tema, a pesquisa, curadoria, expografia e ações educativas.

Nada disso é diferente em nosso Museu Histórico e Pedagógico Dr. Washington Luís (MHPWL), localizado na cidade de Batatais (SP), com apenas duas funcionárias: uma historiadora/pedagoga e uma pesquisadora cultural.

Todavia, no ano de 2017, o processo de montagem de uma exposição foi parcialmente alterado, partindo da ação educativa para posteriormente gerar a curadoria e a exposição denominada Fragmentos do Negro em Batatais.

Em maio de 2017, após uma pesquisa sobre a história do negro em Batatais inspirada no tema proposto pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) para a Semana Nacional dos Museus: “Museus e Histórias Controversas, Dizer o Indizível em Museus”, foi lançada a ação educativa Fragmentos do Negro em Batatais, com término previsto para o mês de novembro com a abertura da exposição de mesmo nome, fruto da ação educativa realizada durante 5 meses no museu e em redes sociais.

Tal proposta surgiu da própria dificuldade com a qual o MHPWL deparou ao buscar informações sobre o período da escravidão e pós­‑abolição em Batatais, uma cidade que teve seu crescimento econômico marcado pelas plantações de café e, por consequência, pela exploração do trabalho escravo, chegando a ter 40% de sua população formada de negros em meados do século XIX, conforme se observa na Figura 1.

A escolha da palavra “fragmentos” representa essa escassa quantidade de documentos e acervos relacionados ao tema na cidade e, consequentemente, no museu.

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Figura 1 – Tabela exposta na linha do tempo organizada pelo MHPWL para a ação educativa. Constata­‑se que de uma população de 2.731 habitantes em 1835, 1.104 eram escravos, ou seja, 40,4% do total.Fonte: Brioschi, 1995, p.124.

A pesquisa sobre a história do negro em Batatais tratou do que ainda não havia sido dito, ou fora dito mas não escutado. Buscou olhar para os poucos objetos museais existentes, do ponto de vista de sua produção, ofícios e saberes, para além do trabalho escravo obrigatório, com base naquilo que já foi registrado nos meios acadêmicos e que consta no MHPWL, mas que ainda não havia sido exposto ao público sob este ponto de vista.

O que se constatou nesse processo é que o MHPWL, que deveria ser o lugar do múltiplo, ainda mantinha a segregação racial e afastava a conscientização da importância da luta por direitos, ao reproduzir as relações de poder dominantes, como também ao selecionar, por exemplo, quais os objetos museais a serem expostos, o que implicava o aprofundamento das desigualdades e perpetuava o desconhecimento da história do outro.

Visando sanar essa lacuna com a ação educativa Fragmentos do Negro em Batatais, o visitante do museu começava seu passeio sem um roteiro específico, por qualquer local reservado a essa ação. Encontrava desde a bibliografia de apoio da pesquisa inicial, até os poucos objetos do acervo, como a batuta que pertenceu ao maestro Major Joaquim Antão Fernandes (negro nascido em 1864) ou a gargalheira utilizada para aprisionar os escravos.

Tanto a batuta quanto a gargalheira foram colocadas em nichos específicos, identificados como referências positivas e negativas do período da escravidão e pós­‑abolição em Batatais, cada qual com uma ação educativa de apresentação.

O Major Joaquim Antão Fernandes, negro batataense de origem humilde, ficou famoso na Polícia Militar do Estado por ganhar o concurso de criação da marcha batida de introdução do Hino Nacional no início do século XX, sendo um dos poucos negros dos quais se tem registro fotográfico no MHPWL, todavia, sem o devido destaque na exposição permanente do museu que retrata os personagens históricos da cidade.

Outros personagens negros locais, em sua maioria descritos pelo memorialista batataense Jean de Frans (codinome de José Augusto Fernandes), foram lembrados em periódicos que constam do acervo documental do MHPWL e também formaram o material da ação educativa (Figura 6).

Chama a atenção o fato de nenhum dos personagens (Florência, Tomé, Flausino, Roque, Evaristão, Antônio, Desidério, Adão etc.) narrados pelo memorialista Jean de Frans possuírem fotos, sendo necessária a utilização de figuras ilustrativas (Figura 2) para se tentar trazer um pouco mais de referência de suas presenças na cidade.

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Figura 2a – Demais personagens negros do final do século XIX e início do século XX em Batatais, retratados em crônicas do memorialista Jean de Frans nos jornais da cidade. Fonte: Acervo de periódicos do MHPWL.
Figura 2b – Demais personagens negros do final do século XIX e início do século XX em Batatais, retratados em crônicas do memorialista Jean de Frans nos jornais da cidade. Fonte: Acervo de periódicos do MHPWL.
Figura 2c – Demais personagens negros do final do século XIX e início do século XX em Batatais, retratados em crônicas do memorialista Jean de Frans nos jornais da cidade. Fonte: Acervo de periódicos do MHPWL.

Outro fato curioso, durante a montagem da ação educativa, foi a existência de uma foto (Figura 3) com aproximadamente 90 rostos sem identificação, tirada em 14 de março de 1939 – centenário de Batatais – em uma festa da “Associação13 de Maio”, que viria a ser o futuro clube da comunidade negra, a Sociedade Recreativa Princesa Isabel.

Para tentar identificar o nome e a história dessas pessoas, criou­‑se um grande painel (Figura 4) em que o público visitante podia inserir informações que auxiliassem na reconstrução da história da Sociedade Recreativa Princesa Isabel em Batatais, um clube de negros em que o branco não era excluído, diferentemente dos clubes de brancos da cidade, onde a participação do negro foi excluída desde a elaboração dos estatutos.

Figura 3 – Foto da Associação 13 de Maio no centenário de Batatais, 14 mar. 1939. Fonte: Acervo iconográfico do MHPWL.
Figura 4 – Painel montado para a identificação do rosto de cada componente da Associação 13 de Maio. Fonte: Acervo iconográfico do MHPWL, 2017.

Também foi criada uma linha do tempo (Figura 5) da história do negro em Batatais, sendo apresentada como uma linha em construção, possível de ser complementada pelo público, deixando em aberto as múltiplas possibilidades e perspectivas de apresentação, estudo e releitura do material sob a guarda do MHPWL, e que dizem respeito de forma direta ou indireta ao negro em Batatais.

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Figura 5 – Linha do tempo sobre a história do negro em Batatais. Fonte: Acervo iconográfico do MHPWL, 2017.
Figura 6 – Textos expostos sobre os personagens negros identificados na pesquisa do museu. Fonte: Acervo documental do MHPWL, 2017

Ações educativas

Cada lacuna que se forma na história pode se tornar esquecimento, e cada personagem sem rosto e sem história registrada, aos poucos se torna inexistente.

Com a ação educativa Fragmentos do Negro em Batatais o MHPWL deu seu primeiro passo na busca por essas histórias e personagens, e de certa forma chamou a população negra a ser protagonista dessa construção.

As ações educativas foram criadas para três formas distintas de público: o escolar, o adulto e o público das redes sociais.

O público escolar foi composto prioritariamente por alunos do ensino fundamental, embora não tenha sido o único público para o qual as ações foram elaboradas. Já o público adulto, em sua maioria, foi composto pelo visitante espontâneo. Nas redes sociais as ações se concentraram na divulgação de dados e convite para visitar o museu, com o compartilhamento das informações pelo Facebook.

Público Escolar

Chegando ao museu, os alunos eram recepcionados na área externa e levados para uma sala anexa onde havia apenas cadeiras organizadas em círculo e uma televisão.

Após as saudações de boas­‑vindas ao grupo, a educadora do museu apresentava os objetivos da visita agendada, justificando o uso daquela sala anexa sem acervo, pois o MHPWL possuía poucas peças e informações relacionadas à história da escravidão e do negro na cidade, convidando assim o público a ser coautor da história em construção do negro em Batatais, que em alguns casos poderia ser também a sua história.

Essa proposta de convidar os alunos a serem coautores surgiu da percepção de que o público precisa experienciar vivências afirmativas sobre sua origem étnico­‑social e os museus são um dos espaços de sociabilidade onde identificações, distorções e resistências acontecem.

Com isso, esperou­‑se dar maior visibilidade aos alunos, principalmente aos afrodescendentes, a fim de fortalecer a autoestima pessoal e coletiva por meio da construção de imagens positivas, bem como valorizar o patrimônio cultural constituído.

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Convidado então a participar da construção dessa história, a primeira atividade proposta ao público escolar consistia num jogo de palavras dispostas no piso quadriculado da sala anexa ao museu (Figura 7). Todas as palavras eram relacionadas a diversas designações conceituais que o africano e seus descendentes receberam durante a escravidão.

Mediado pela educadora do museu, o público sugeria letras que pudessem formar as denominações – escravo, cativo, preto, negro, pardo, mestiço, crioulo, moreno e mulato –, e dessa forma ia descobrindo ou mesmo recriando uma leitura mais crítica sobre as discriminações de acordo com a cor da pele ou local de origem. Era possível rever algumas palavras hoje tidas como preconceituosas, tais como mulato e moreno, em contraposição a palavras afirmativas como negro e preto.

Figura 7 – Jogo de palavras na sala anexa ao museu, sobre denominações atribuídas ao negro de acordo com o tom de sua pele ou local de origem. Fonte: Acervo iconográfico do MHPWL, 2017.

Após a apresentação e debate sobre os diversos termos ligados de forma discriminatória ao negro durante a escravidão no Brasil, o público escolar assistia a um vídeo (Figura 8) produzido pelo próprio museu, resultado de uma pesquisa nas redes sociais, buscando fotos de pessoas negras de Batatais que formam a sociedade nos dias de hoje.

A trilha sonora escolhida para apresentar o vídeo (com duração de 4 minutos e 51 segundos) continha estas músicas: Preta Pretinha (Novos Baianos), Raça Negra (Olodum) e Tá Caindo Flor (Meninas de Sinhá).

Durante a exibição do vídeo o público escolar podia reconhecer e conhecer pessoas da sociedade que desenvolvem as mais diversificadas atividades, tais como: professores(as), poetas e poetisas, dançarinos(as), mestres de capoeira, jornalistas, publicitários(as), escritores(as), costureiras, músicos, empresários(as), operários, funcionários(as) públicos(as), artistas, vereadores(as), atores e atrizes etc., sendo possível comentar sobre as pessoas que conheciam e também sugerir mais pessoas que poderiam estar no filme. A utilização do termo “preto” ou “negro” também era debatida, para que se identificasse quando as palavras ganhavam sentido pejorativo ou ofensivo.

Ao final dessa primeira parte, a educadora do museu perguntava ao público escolar se mais alguém se sentia parte dessa história e gostaria de estar no filme, seja por ser afrodescendente ou, mesmo não tendo em sua cor de pele a marca da origem afro, reconhecesse fazer parte dessa mistura étnico­‑racial, identificando­‑se culturalmente como negro.

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Os alunos e professores que manifestaram o interesse em integrar­‑se ao filme eram registrados em uma foto coletiva pela educadora do museu, que logo na sequência era inserida no filme para ser passado novamente ao público no final da visita.

A Figura 8 apresenta trechos do filme.

Figura 8a – Trechos do filme organizado pelo MHPWL sobre a sociedade negra ou preta de Batatais. Fonte: Acervo digital do MHPWL, 2017.
Figura 8b – Trechos do filme organizado pelo MHPWL sobre a sociedade negra ou preta de Batatais. Fonte: Acervo digital do MHPWL, 2017.
Figura 8c – Trechos do filme organizado pelo MHPWL sobre a sociedade negra ou preta de Batatais. Fonte: Acervo digital do MHPWL, 2017.
Figura 8d – Trechos do filme organizado pelo MHPWL sobre a sociedade negra ou preta de Batatais. Fonte: Acervo digital do MHPWL, 2017.
Figura 8e – Trechos do filme organizado pelo MHPWL sobre a sociedade negra ou preta de Batatais. Fonte: Acervo digital do MHPWL, 2017.
Figura 8f – Trechos do filme organizado pelo MHPWL sobre a sociedade negra ou preta de Batatais. Fonte: Acervo digital do MHPWL, 2017.
Figura 8g – Trechos do filme organizado pelo MHPWL sobre a sociedade negra ou preta de Batatais. Fonte: Acervo digital do MHPWL, 2017.
Figura 8h – Trechos do filme organizado pelo MHPWL sobre a sociedade negra ou preta de Batatais. Fonte: Acervo digital do MHPWL, 2017.
Figura 8i – Trechos do filme organizado pelo MHPWL sobre a sociedade negra ou preta de Batatais. Fonte: Acervo digital do MHPWL, 2017.
Figura 8j – Trechos do filme organizado pelo MHPWL sobre a sociedade negra ou preta de Batatais. Fonte: Acervo digital do MHPWL, 2017.
Figura 8k – Trechos do filme organizado pelo MHPWL sobre a sociedade negra ou preta de Batatais. Fonte: Acervo digital do MHPWL, 2017.
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Terminada essa etapa, os alunos eram convidados a entrar no museu e posicionar­‑se entre os dois nichos, um vermelho e outro amarelo, que traziam referências positivas e negativas sobre a história do negro em Batatais.

O nicho vermelho (Figura 9), com alguns objetos museais ligados direta e/ou indiretamente ao período de cativeiro, tinha como destaque a gargalheira usada como objeto de castigo e/ou suplício pelos proprietários de escravos, sendo referência notória da escravidão e violência com que eram tratados os negros no Brasil por séculos.

Figura 9 – Nicho vermelho referente aos aspectos negativos da escravidão, com destaque para a gargalheira, pendurada ao centro. Fonte: Acervo iconográfico do MHPWL, 2017.

Junto à gargalheira havia espelhos e molduras vazias, representando os escravos anônimos e os reflexos de rostos do próprio público, deixando assim indicada a possibilidade de qualquer um ter feito parte dessa história.

No outro nicho, pintado de amarelo, havia ao centro uma vela e uma batuta (Figura 10) como referência ao Major Joaquim Antão Fernandes, filho de escravos nascido em 1864, que quando criança trabalhou sem remuneração na fazenda de seu padrinho e apenas com o dinheiro da venda de uma vela adquirida em velório é que conseguiu sair de Batatais rumo a um destino incerto. Na cidade de Casa Branca, foi convidado por um soldado a tentar a vida na capital como componente da Banda da Polícia Militar do Estado. Joaquim Antão aceitou a proposta e veio a tornar­‑se, com enorme sacrifício, o maestro da Banda do Governo do Estado de São Paulo. Todavia, seu feito mais conhecido foi ganhar um concurso da marcha batida de introdução do Hino Nacional, no início do século passado, durante a presidência de Rodrigues Alves.

Figura 10 – Vela, batuta e imagem digital do Major Joaquim Antão Fernandes. Fonte: MHPWL, 2017.

Apesar de fazer parte de um marco na história nacional, o nome de Joaquim Antão era desconhecido até mesmo do público de professores que acompanhavam os alunos. Tal ausência de memória também se deve à pouca menção sobre esse personagem no próprio museu.

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A ação educativa desenvolvida no museu para a apresentação da história do Major Joaquim Antão Fernandes gerou grande admiração e orgulho do público, motivando­‑o a conhecer as demais histórias expostas no nicho amarelo, além de incentivá­‑lo a tentar identificar os rostos do mural sobre a “Sociedade 13 de Maio” ou conhecer a Linha do Tempo (Anexo I) sobre a História do Negro em Batatais. Todas essas atividades podiam ser complementadas pelo público, conforme podemos observar na Figura 11.

Figura 11 – Trecho da Linha do Tempo em que o público podia colocar informações, como a data de seu nascimento e demais dados sobre o afrodescendente em Batatais. Fonte: Acervo digital do MHPWL, 2017.

Ao final da visita, o público escolar retornava à primeira sala para assistir novamente ao vídeo que continha as fotos do grupo, como também para complementar o mural de desenhos sobre a população negra de Batatais (Figura 12), podendo representar alguém de sua família ou de seu meio de convivência, formando o que foi denominado “galeria do núcleo de pesquisa sobre a história do negro em Batatais”.

Figura 12 – Crianças desenhando rostos de familiares ou conhecidos que são negros para colocar no novo mural com novas histórias possíveis de serem contadas, dando continuidade ao projeto para formar a exposição Fragmentos do Negro em Batatais. Fonte: Acervo digital do MHPWL, 2017.

Desta forma, utilizou­‑se com o público escolar o modelo da visita educativa mediante discussão dirigida, estabelecendo diálogos com intervalos para as atividades voltadas ao protagonismo dos alunos e outros momentos de atuação da educadora do museu, com o fornecimento de informações, dando espaço para a inserção de novos saberes pelo próprio público.

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Público adulto

O público adulto foi formado em sua grande maioria por visitantes espontâneos e professores que acompanhavam o público escolar.

O visitante espontâneo entrava no museu pela área expositiva e, quando se aproximava do setor dos nichos vermelho e amarelo, era informado sobre a ação educativa Fragmentos do Negro em Batatais.

Como em alguns casos o visitante adulto não deseja participar de uma ação educativa, recebia as informações sobre a proposta, sendo convidado a interferir caso pudesse contribuir com algum conhecimento sobre a história do negro em Batatais, tanto na linha do tempo como no painel de fotos ou nos demais textos que estavam à disposição.

A equipe do museu deixava claro ao público adulto que naquela parte do museu, o que havia era um conjunto de dados ainda em estudo para a elaboração de uma exposição.

Algumas pessoas se interessavam pelo tema e comentavam que voltariam para trazer conhecidos que poderiam contribuir com a pesquisa; mas esse retorno não aconteceu dentro do prazo dos 6 meses dedicados à ação educativa.

Outro meio utilizado para atingir o público adulto foram as redes sociais. Todavia, esse processo foi usado apenas na divulgação dos rostos que compõem a foto da Sociedade 13 de Maio, visando identificar algumas das pessoas. Posteriormente, no mês de novembro de 2017, as redes sociais foram utilizadas para divulgar a exposição, como parte das comemorações da Consciência Negra.

A divulgação da foto com os rostos ampliados nas redes sociais permitiu identificar apenas uma das integrantes da antiga Sociedade 13 de Maio, com o depoimento de um neto e de uma filha, os quais infelizmente não tinham mais informações sobre aquele evento ou sobre as demais pessoas presentes na foto.

Já a divulgação nas redes sociais sobre personagens negros de Batatais ou sobre dados da escravidão na cidade gerou muita polêmica. Foi valorizada por alguns e criticada por outros, por ainda carregarem o estigma do preconceito racial ou relacionarem o tema ao feriado julgado como prejudicial ao comércio (Anexo II).

Tais discussões serviram para reforçar a necessidade de o MHPWL continuar tratando desses temas e chamar a população a se posicionar, refletir e avaliar o quanto a história do negro em Batatais ainda está carregada de preconceitos e do “indizível”.

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Considerações finais

A cada nova visita, nova exposição se formava, mediante a intervenção do público que participava das ações educativas propostas.

As observações e complementações do público sobre a visita e a participação nas ações educativas (com a realização de desenhos, inserções e até registros fotográficos) ficavam expostas pelo museu e na sala anexa.

As atividades propostas da Linha do Tempo (história que começa em 1700 e se estende até 2017, podendo ser completada pelo visitante com dados históricos relacionados à história da comunidade negra em Batatais), Jogo da Memória (painel com rostos de representantes da Associação 13 de Maio – 10 deles repetidos no jogo – em que o público também podia contribuir com informações sobre quem são essas pessoas), Jogo de Palavras (com termos relacionados ao período da escravidão, em que o público era estimulado a pensar sobre as denominações de cores atribuídas aos negros), Registro Fotográfico (compondo os novos representantes da comunidade negra apresentados no vídeo elaborado pelo museu) e Retratos Imaginários (desenhos produzidos pelo público sobre pessoas negras da sociedade ou criações imaginárias dos personagens apresentados nas ações educativas) – todo o material produzido nas ações educativas – passaram a compor a exposição em constante transformação durante os 6 meses de sua realização, de maio a novembro de 2017.

Dessa forma, o Museu Histórico e Pedagógico Dr. Washington Luis tornou­‑se um espaço de construção de identidades pessoais e coletivas, colaborando de forma afirmativa para a desconstrução de visões sócio­‑históricas preconceituosas e estimulando o respeito e a aceitação à diversidade cultural.

ANEXO I – Linha do Tempo

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ANEXO II – Comentários nas redes sociais

https://www.facebook.com/groups/1718593971742128/search/?query=MAJOR%20JOAQUIM%20ANT%C3%83O%20

Publicação do Museu:

https://www.facebook.com/groups/1718593971742128/search/?query=Alessandra%20Baltazar

Referências

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Capa

Rede de Redes – diálogos e perspectivas das redes de educadores de museus no Brasil

Sumário Ficha Técnica