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MAB ESCOLA – Descobertas e desdobramentos

Resumo

Esse texto é resultado de uma produção e pensamento coletivo da equipe de educadores(as) e da coordenação educativa do Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Alvares Penteado (MAB/FAAP). Em 2017, quando houve uma equipe de longa duração (contratada por 10 meses), desenvolvemos conversas e projetos que já aconteciam no MAB, como a passagem do projeto MAB PROFESSOR para MAB ESCOLA e a criação do CICLO DE CONVERSAÇÕES. Este texto tem por objetivo refletir sobre a constituição histórica dos projetos citados, apontar as reflexões que acompanharam suas mudanças e desdobramentos e levantar quais foram as motivações que dispararam esses movimentos e transformações.

Palavras­‑chave

Arte­‑educação; Museu; Educação Museal; Educação não formal; Formação de Professores.

Introdução

Esse texto é resultado de uma produção e pensamento coletivo da equipe de educadores(as) e da coordenação educativa do Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Alvares Penteado (MAB/FAAP). O objetivo é retomar a trajetória do projeto que visa aproximar o trabalho educativo desenvolvido na escola e no museu, dando um enfoque ao ano de 2017 com seus principais desafios e vitórias.

MAB PROFESSOR – MAB ESCOLA

Durante os anos 2000, a equipe do setor educativo do Museu de Arte Brasileira (MAB/FAAP), composta pela coordenação de Denise Pollini e Luciana Chen e pela colaboração dos educadores temporários de cada exposição, elaborou um novo material chamado MAB PROFESSOR. O material apresentava textos reflexivos e atividades que auxiliariam o professor a trabalhar posteriormente com os alunos o conteúdo abordado nas visitas ao museu.

No entanto, em razão de outras demandas, o projeto foi interrompido. A partir daí, a relação com os professores consistia em uma visita na qual o educador recebia o responsável pelo grupo agendado, com o objetivo de apresentar o trabalho educativo e alinhar propostas e expectativas.

Entretanto, achamos que ainda faltava um encontro mais sólido com os docentes e, portanto, o projeto foi retomado pela atual coordenação de Tatiana Bo e Wagner Pereira Silva, em 2016, durante a exposição ELAS: mulheres artistas no acervo do MAB/FAAP. No novo formato, o material era desenvolvido exclusivamente pela coordenação educativa e apresentado aos educadores, constituído por um texto no qual havia atividades práticas que buscavam tratar de forma abrangente os temas que perpassavam a exposição em cartaz. Não havia nenhum tipo de separação por disciplina escolar, buscando respeitar as possíveis especificidades de cada escola, as diversas culturas escolares, preservando a autonomia da produção intelectual do professor. Esse material foi diagramado pela equipe, disponibilizado on­‑line e impresso em A4 somente para os grupos que agendavam uma visita mediada específica. O objetivo era aproximar os profissionais da educação formal das práticas educativas não formais realizadas pelo setor educativo do museu. As visitas, que eram parte integrante do projeto, tinham maior duração que o convencional e constituíam uma oportunidade de apresentação do material, bem como um momento de acolhimento das demandas e necessidades do público docente.

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No mesmo ano, durante a exposição seguinte, Raimundo Cela – um mestre brasileiro, o material começou a ser produzido com participação dos educadores. Essa participação foi fundamental e dinamizou o desenvolvimento epistemológico, expandindo as perspectivas em relação às temáticas desenvolvidas. Desde então, o MAB PROFESSOR é elaborado a cada exposição pela equipe como um todo. Ele encontra­‑se acessível a todos os interessados e é disponibilizado on­‑line em PDF no site do museu, mantendo essa possibilidade de agendamento direcionado aos profissionais escolares.

As visitas são experiências potentes, uma vez que pensadas como um diálogo e não no formato palestra. O educador do museu não só propõe um percurso na exposição, mas se coloca à disposição para incitar debates e reflexões, a fim de aproximar os(as) trabalhadores(as) da escola do ambiente museológico. Acreditamos que essa experiência presencial é complementar à disponibilização do material, uma vez que permite maior integração entre os trabalhadores da escola e os educadores do museu.

As Visitas MAB ESCOLA respeitam a singularidade de cada educador(a), o qual promove seu percurso e conversa com a comunidade escolar de acordo com sua pesquisa individual e a intersecção das ações educativas em escolas e museus.

A partir das experiências com visitas no formato MAB PROFESSOR, percebemos que algumas escolas têm programas de integração entre os funcionários e que uma das atividades realizadas é a visitação a algum espaço cultural. A participação de diretores, agentes de limpeza, cozinheiros, inspetores de alunos e coordenadores pedagógicos, entre outros, enriquece o debate e as visitas educativas.

Figura 1 – Visita MAB PROFESSOR com a EMEI Zélia Gattai, realizada no dia 27 de maio de 2017.

Dessa forma, pensamos que nosso projeto também poderia se expandir, abrangendo o ambiente escolar como um todo. Decidimos, então, alterar o nome MAB PROFESSOR para MAB ESCOLA, a fim de que todos pudessem se sentir contemplados. Resolvemos, portanto, acolher a comunidade escolar e ouvir suas demandas e questionamentos. Também repensamos o fato de o projeto se limitar apenas a questões pertinentes às exposições em cartaz, pretendendo ampliar os debates para uma programação mais ampla que tenha como objetivo discutir a relação museu/escola de modo geral. O material educativo manteve a característica original e decidimos não alterar o nome dos materiais produzidos anteriormente, pois acreditamos que eles fazem parte de nosso percurso e evidenciam nossa trajetória até aqui.

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Ciclo de conversações

Figura 2 – Divulgação para o “Ciclo de Conversações: MAB ESCOLA”.

Durante o ano de 2017, o Museu de Arte Brasileira experimentou um novo formato de contratação das suas equipes, conquistado pela argumentação da coordenação (Tatiana Bo e Wagner Pereira), e contratou seis educadores durante o período de 10 meses. As exposições do acervo do MAB têm a característica de propor uma nova curadoria anualmente.

Antes de 2017 as equipes eram contratadas por 3 ou 4 meses, em torno de cinco educadores na equipe que trabalhava durante o primeiro semestre, e outra equipe assumindo a mesma exposição no segundo semestre. Esse tempo mais alongado dentro da instituição e com educadores que já haviam trabalhado no MAB proporcionou um amadurecimento de temáticas, debates, conversas e produções da ação educativa.

Nesse período tivemos a possibilidade de acumular e produzir conhecimentos específicos sobre nosso ofício, sobre essa tecnologia específica de acolhimento do público no museu. Esse acúmulo deriva de uma prática de estudos coletivos orientados pela equipe educativa: discutimos, lemos, apresentamos, discordamos, criamos consensos e dissensos etc. Trata­‑se de um processo essencial de pesquisa conceitual sobre nossa prática, que cada vez mais foi se diluindo nas práticas efetivas que realizamos no museu.

Existe uma dúvida constante entre todos os tipos de frequentadores do museu, com relação à função de um educador. Ouvimos estes questionamentos: “Você é monitor? Educador? Guia? Tira dúvidas?”. Convivemos com essas questões no nosso cotidiano de trabalho.

Percebemos que, muitas vezes, as ações educativas em contextos de artes visuais e plásticas são menosprezadas pelas instituições e pelo público, consideradas como algo secundário, como um apêndice, como algo destinado apenas às crianças e pessoas “incapazes” de compreender arte. Existe uma discursividade comum e popular que leva a pensar que “o Setor Educativo é composto por profissionais responsáveis por fazer uma pura transferência do conhecimento da exposição para os visitantes, que, neste caso, são caixas passivas e expectantes desse conhecimento sagrado da obra de arte e do artista”. Uma relação de ensino bancário, como escreveu Paulo Freire (1997). Nessa chave de análise, o público é percebido como dependente de outro para realizar leituras, análises, percepções e sensações sobre a experiência de fruição artística.

Refletindo sobre esses temas e em nossas investigações, percebemos que o público é produtor de conhecimento, sensação e análise sobre (e com) as obras de arte expostas no museu, assim como a curadoria também é produtora de certo conhecimento e percepção sobre esse público e as obras expostas. As instituições também estão produzindo certos discursos e conhecimentos quando escolhem acolher algumas obras e não outras em suas exposições e acervos. Se curadores, público, instituição e obras são produtores de saberes, o papel do educador como aquele que transfere um conhecimento puro da obra para o público se desmancha, perde sentido, já que todos os lados dessa relação de fruição artística são autônomos para produzir suas próprias experiências.

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Qual seria o papel do(a) educador(a) de museus e exposições? Sua especificidade? Instigados por essa investigação/questionamento e com desejo de discutir isso de forma pública e aberta com quem pudesse se interessar, desenvolvemos o Ciclo de Conversações MAB ESCOLA. Formalizamos assim a proposta e o texto de divulgação:

Ciclo de Conversações: MAB ESCOLA

Dias 26 ago., 30 set. e 28 out. – sábados (das 10h às 13h)

O ciclo de conversas tem o objetivo de aproximar os profissionais da educação formal das reflexões e práticas da educação não formal. Apresentando algumas práticas realizadas no Museu de Arte Brasileira da FAAP e em outras instituições com contextos de mediação cultural, os encontros pretendem possibilitar a troca de ideias acerca de temas importantes para a vivência escolar e suas intersecções com o ambiente do museu.

Se você trabalha com ensino formal ou se interessa pelos contextos de mediação em artes visuais, preparamos uma série de três encontros com temas diversos para experimentar, pensar e conversar:

1º Encontro (26 ago.) – DIVERSIDADES: EDUCAÇÃO FORMAL, EDUCAÇÃO INFORMAL E EDUCAÇÃO NÃO FORMAL.

2º Encontro (30 set.) – VIVER INFANTE: ESTRATÉGIAS E PERSPECTIVAS DA FRUIÇÃO DE ARTES NA INFÂNCIA.

3º Encontro (28 out.) – O CORPO DO PÚBLICO: ENGAJAMENTOS DO CORPO EM EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO E MEDIAÇÃO.

Todos os encontros são gratuitos e acontecem no Espaço Educativo do Museu de Arte Brasileira (MAB) da FAAP. Abaixo seguem detalhadas as ementas de cada encontro.

Foram abertas inscrições on­‑line, divulgadas em redes sociais e no mailing do museu. Cada encontro teve entre 20 e 30 inscritos, um número que consideramos interessante para a programação de cada conversa.

Figura 3 – 1o Encontro do Ciclo de Conversações MAB ESCOLA (26/08) – Diversidades: Educação Formal, Educação Informal e Educação Não Formal.

Os encontros foram divididos em conversas e ações propiciando uma maior interação entre o público e os assuntos abordados. Para cada encontro foi pensada uma ementa:

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1º Encontro (26 ago.) – DIVERSIDADES: EDUCAÇÃO FORMAL, EDUCAÇÃO INFORMAL E EDUCAÇÃO NÃO­‑FORMAL

Resumo: Os sistemas educacionais estão vivendo profundas transformações no mundo contemporâneo. Tecnologia, novas mídias, novas formas de sociabilidade, novos espaços de aprender, tem provocado reflexões, críticas e invenções no campo da educação formal e abrindo espaços para experimentações não formais em educação. Espaços não formais como o museu, a casa de cultura, o espaço de cultura etc. têm pululado novas estratégias de educação, ensino e aprendizagem. Neste dia iremos acompanhar as reflexões baseadas nos textos de Valéria Aroeira Garcia e pensar as aproximações e distanciamentos entre educação formal, educação informal e educação não formal; bem como seu histórico e desdobramentos.

2º Encontro (30 set.) – VIVER INFANTE: ESTRATÉGIAS E PERSPECTIVAS DA FRUIÇÃO DE ARTES NA INFÂNCIA

Resumo: A infância é um lugar de invenção e criação. Esse encontro tem o objetivo de pensar coletivamente as características da infância como uma potência de exploração de novos meios e estratégias de fruir arte. O brincar, o lúdico, o festivo, o experimental, atuam como possibilidades de mediação cultural deste público específico. Conversaremos sobre estratégias e possibilidades de ações educativas que vinculam a escola, o museu e a infância e compartilharemos algumas experiências já realizadas.

3º Encontro (28 out.) – O CORPO DO PÚBLICO: ENGAJAMENTOS DO CORPO EM EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO E MEDIAÇÃO

Resumo: O corpo é um meio de interações com o mundo: é a partir dele que vemos coisas, ouvimos sons, sentimos cheiros, entramos em relação, ocupamos e conquistamos espaço. O corpo é a superfície onde se escreve a história de cada um e cada uma, história singular, deste modo as obras atravessam de forma específica cada observador. Neste encontro o núcleo educativo propõe uma sensibilização do corpo do público, a fim de perceber suas potencialidades, suas particularidades e quais possibilidades surgem da dinâmica entre o museu, o espaço expositivo, a escola, o visitante, o educador e o educando.

Os encontros e seus planejamentos reverberaram uma literatura em comum entre a equipe e consolidaram uma bibliografia:

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Bibliografia comum

ALENCAR, Valéria P. de. Das “lições de coisas” à mediação cultural: permanências atitudinais e possibilidades de dissenso e contravisualidade na educação em museus de história. Rio de Janeiro: Associação dos Servidores do Arquivo Nacional, 2016.

. O mediador cultural: considerações sobre a formação e profissionalização de educadores de museus e exposições de Arte. Dissertação (Mestrado em Artes) – Instituto de Artes, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp). São Paulo, 2008.

BARBOSA, Ana Mae. Arte­‑educação no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 2002.

GARCIA, Valéria A. A educação não­‑formal e a questão social. In: SEMINÁRIO NACIONAL ESTADO E POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL, 2., 2005, Cascavel, PR. Disponível em: http://cac-php.unioeste.br/projetos/gpps/midia/seminario2/trabalhos/educacao/medu05.pdf.

GRINSPUM, Denise. Educação para o patrimônio: museu de arte e escola. Tese (Doutorado) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo (USP). São Paulo, 2000.

LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? 6.ed. São Paulo: Cortez, 2002.

OLIVEIRA, Miguel D. de; OLIVEIRA, Rosiska D. de; CECCON, Claudius; HARPER, Babette. Cuidado, Escola! Desigualdade, domesticação e algumas saídas. 22.ed. São Paulo: Brasiliense, 1986.

SCHÖN, Donald A. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem.Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

Primeiro encontro

COOMBS, Philip H. A crise mundial da educação. São Paulo: Perspectiva, 1986.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática docente. 3.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1997.

. Pedagogia do oprimido. 20.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

GARCIA, Valéria A. A educação não­‑formal como acontecimento. Tese (Doutorado) – Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Campinas, 2009.

. O papel da questão social e da educação não­‑formal nas discussões e ações educacionais. Revista de Ciências da Educação, Americana: Unisal, ano X, n.18, p.65-97, 1º sem. 2008.

GOHN, Maria da Glória. Educação não­‑formal e cultura política: impactos sobre o associativismo do terceiro setor. São Paulo: Cortez, 1999.

TRILLA, Jaume. La educación fuera de la escuela: ámbitos no formales y educación social. Barcelona: Ariel, 1996.

. La educación informal. Barcelona: PPU, 1987.

UNESCO. Terminología. Tesauro de la Educación. Paris: Unesco, 1977.

Segundo encontro

ABRAMOWICZ, Anete. A criança, a infância e a sociologia da infância. In: FERNANDES, Renata S.; PARK, Margareth B. (Org.) Programa curumim “Memórias, Cotidiano e Representações”. São Paulo: Ed. Sesc, 2015.

HOLM, Anna Marie. A energia criativa natural. Revista Pro­‑Posições, v.15 n.I, jan./abr. 2004.

LEITE, Maria Isabel. Arte e Expressão. In: FERNANDES, Renata S.; PARK, Margareth B. (Org.) Programa curumim “Memórias, Cotidiano e Representações”. São Paulo: Ed. Sesc, 2015.

Terceiro encontro

CORTÁZAR, Julio. História de cronópios e de famas. São Paulo: Civilização Brasileira, 2016.

GODARD, Hubert. Gesto e percepção. In: PEREIRA, Roberto; SOTER, Silvia (Org.) Lições de dança. v.3. Rio de Janeiro: UniverCidade, 1999.

PADOVAN, Beatriz. Reorganização neurofuncional. Revista Temas sobre Desenvolvimento, São Paulo: Memnon, ano 3, p.13-21, mar./abr. 1994.

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Cada encontro do ciclo tem duração de 3 horas e o formato varia de acordo com cada facilitador; no entanto, estabelecemos alguns princípios como parâmetro: característica conversacional e dialógica; característica experimental e vivencial; característica conceitual e teórica.

a) característica conversacional e dialógica

Partimos do princípio de que as pessoas que participam desses encontros já carregam em si experiências, vivências, conteúdos, saberes etc. Desse modo, o aspecto conversacional é um dos pilares para os planos de ação de cada facilitador. Parte essencial desse projeto é justamente o que o nomeia, as conversações (conversas + ações). Combinamos de diversas formas os aspectos de conversação entre os participantes do grupo com perguntas geradoras, disparadoras de memórias afetivas, conversas coletivas com palavras­‑chave, mapeamento conceitual coletivo sobre experiências vividas nos dias, entre outros.

b) característica experimental e vivencial

Percebemos com nossos estudos e práticas que proposições como vivências e experiências criam conhecimentos comuns em certo grupo e colaboram com a construção de alguns conceitos que podem ser abstratos em um coletivo, como “inventividade”, “infância”, “sinestesia” etc. As vivências criam um campo de existência comum a todos os sujeitos, que podem, variando as experiências, cultivar afetos e percepções comuns a um mesmo acontecimento e tema.

Como perspectiva pedagógica e política propusemos em cada encontro diversas partituras de ações coletivas e vivenciais, tais como ação poética “pertravés”, a visita temática “sinestésica”, jogos de construção de máscara (teatro físico), leituras e intervenção em imagens, estudo das utilizações do corpo na história da arte etc.

A ação poética “pertravés” foi reminiscência do compartilhamento de processo de pesquisa do artista e educador Eduardo Cachucho, que esteve residente na FAAP no Edifício Lutetia (prédio dos anos 1920 que abriga a residência artística promovida pela FAAP com artistas de diversas partes do mundo, localizado no centro da cidade de São Paulo). Convidamos o público a traduzir em diferentes suportes (tela transparente, texto, atuação, narração, muralismo) um mesmo acontecimento coletivo, que depende do engajamento de todos para acontecer – enquanto uma pessoa narra uma história, outras inventam palavras que não existem para essa história, que é descrita em texto por observadores, retratada em tela transparente, vivida em encenação por alguns e situada em um muralismo coletivo.

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Durante o primeiro encontro do ciclo de conversações realizamos uma ação com um livro coordenado por Paulo Freire chamado Cuidado! Escolas. Freire organizou esse livro em Genebra, quando esteve exilado do Brasil durante o regime militar de 1964-1988. Esse livro alia as percepções defendidas por Freire ao longo de sua vasta produção com ilustrações e charges feitas por diversos artistas convidados por ele. É um livro de charges, imagens, metáforas e análises dos anos 1970, no entanto, representativas de um presente ainda vivido por nós quando observamos as escolas. Com impressões em A3 dessas imagens, propusemos uma análise em grupos que foram formados por afinidades com as imagens. A análise conta com uma intervenção gráfica na imagem, com canetinhas, crayon e lápis, apontando para atualizações desse processo no mundo contemporâneo, possibilidades de transformação daquela realidade, reflexões sobre o que elas representavam. Feitas as análises e intervenções, cada grupo apresenta sua nova imagem para o coletivo.

A proposição de O CORPO DO PÚBLICO foi desenhada com utilização de instrumentos e jogos teatrais e a utilização de mídias digitais (fotografias de celular) para estimular percepções e ocupações do espaço em outras perspectivas. Os jogos teatrais conduziram a construção de um tipo utilizando cinco decomposições de movimento: caminhada, postura, gestual, máscara facial e voz. Por meio de indicações e experimentações cada um construiu um tipo e o apresentou em público. Convidamos as participantes a fotografar o espaço do museu na perspectiva em que elas normalmente olham: “O que chama sua atenção? O que lhes interessa?”. Depois, sorteamos palavras­‑chave ou palavras­‑estímulos que serviriam para guiar as fotografias: “Se eu fosse um peixe, como veria o museu? Se fosse uma águia? Um rio? Um elefante? Etc.”. Depois apresentamos e analisamos coletivamente as imagens.

As experiências aqui descritas e outras cultivam laços de sociabilidade entre as pessoas dos grupos, entre o público e o museu, e inauguram novas possibilidades de ocupação do espaço do museu pelo público. Um ir ao museu não apenas para pensar com “a cabeça”, ir ao museu sentir com os pés, deitar com a escultura, rir com os quadros, brincar com o chão, desenhar, pintar, tocar etc.

c) característica conceitual e teórica

Todos os encontros foram fundamentados em pesquisas de educadores, artistas, artistas­‑educadores (educadores­‑artistas), cientistas­‑sociais e historiadores, entre outros. Acreditamos que o estudo teórico do campo, a construção de análises quantitativas e qualitativas dos públicos de museus e das ações educativas em museus são extremamente importantes e apontam para formas de refletir, criticar e cultivar conhecimentos comuns para a área e para o público.

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Buscamos orientar as construções sempre associadas com justificativas teórico­‑conceituais em pensadoras e pensadores de diversos campos. No entanto, esses pensadores e nossas leituras sempre se orientaram para aproximar o conceito da prática, ou permitir vazar o conceito para a materialidade e para os acontecimentos.

Considerações finais

O ano de 2017 fortaleceu o museu como um espaço de discussão e debate de novos temas, além dos tradicionais como arte e memória. Discutimos educação e formas de educar e convidamos diversas pessoas para pensar em conjunto. Ocupamos um espaço marcado pelo passado com questões contemporâneas. O museu se reafirma, assim, como um lugar vivo e de convivência e debate, com vozes discordantes, mas com a presença da escuta e do aprendizado mútuo.

Para acessar mais informações sobre o acervo de ações educativas, exposições, agendamentos, parcerias e visitas conjuntas com outras instituições, acesse o site do museu (http://www.faap.br/museu/) ou procure MAB/FAAP nas redes sociais do Facebook e no Instagram. Lá você encontrará a divulgação das próximas ações do MAB/FAAP e também o acervo de ações já realizadas pelo Museu e pelo Setor Educativo.

Capa

Rede de Redes – diálogos e perspectivas das redes de educadores de museus no Brasil

Sumário Ficha Técnica