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II Encontro da REM­‑SP como espaço de Laboratório de Mediação Cultural

Resumo

Este texto é uma breve reflexão sobre a presença dos alunos do curso de Museologia da ETEC Parque da Juventude (São Paulo) no Encontro da Rede de Educadores de Museus (REM­‑SP), com base em uma parceria entre a coordenação do curso e os coordenadores do evento, com o intuito de aproximar os alunos das discussões mais atuais sobre esse tema e também dar a eles a oportunidade de atuar no evento, como estagiários voluntários, a fim de que pudessem fazer parte dessa rede e não agir só como espectadores. Como professora da disciplina de Laboratório de Mediação Cultural, foi possível acompanhar e estimular essa prática dos alunos e trazer uma discussão teórica sobre Mediação Cultural, com base nessa experiência.

Palavras­‑chave

Mediação Cultural; Arte­‑educação; Educação; Ação Educativa, Sesc­‑SP.

“A educação é uma ponte entre o que somos e o que seremos.”
Valquíria Prates

Inicio meu texto com esta frase da pesquisadora e arte­‑educadora Valquíria Prates, palestrante que realizou o encerramento do II Encontro da Rede de Educadores de Museus de São Paulo (REM­‑SP), pois ela aborda o aspecto fundamental da minha participação no evento, ação educadora. Sou professora do curso de Museologia da ETEC Parque da Juventude, trabalhando com duas disciplinas: Laboratório de Mediação Cultural e Comunicação Museológica. Ambas perpassam o mesmo campo, que é a relação do museu com o público, e dessa forma venho tentando fazer meus alunos participarem da realidade dos museus da cidade, e também mostrar a eles que é possível transformar e criar novas maneiras de fazer Mediação Cultural, estimulando a criatividade, embora muitos alunos cheguem ao curso sem nunca ter trabalhado em museus ou se debruçado mais especificamente sobre as relações educativas em museus. Para que meu trabalho como educadora seja, então, consolidado, com base na prática, mantenho conversas constantes com profissionais de comunicação dos museus de São Paulo, analisando suas estratégias e trazendo­‑os para mostrar suas perspectivas aos alunos, a fim de despertar um olhar para as diferentes formas do trabalho.

Nestes caminhos da pesquisa, me aproximei da REM­‑SP mantendo contato frequente com amigos educadores de museus, e foi nesse percurso que recebi o convite de Lilian Amaral para trazer alguns alunos do curso técnico em Museologia para participar de um pequeno estágio voluntário, junto à organização do II Encontro da REM­‑SP. Nesse momento eu acompanharia o percurso deles, como tutora dessa atividade prática. Enquanto educadora­‑mediadora, vi­‑me no papel de oportunizar descobertas aos alunos, pois a experiência precisava de tempo e, segundo Jorge Larrosa (2002), ela “acontece na possibilidade de que algo nos passe, nos aconteça ou nos toque, e requer parar para pensar, olhar devagar, olhar mais devagar, suspender a opinião e o juízo, falar sobre o que nos acontece e calar muito”. Para gerar um processo educativo lá na escola, é preciso acreditar que pode ocorrer uma experiência com os alunos, no museu, tal qual apresentada por Larrosa. Assim, aceitei o convite, na certeza de que seria transformador.

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Três alunos foram selecionados por mim, após convite em sala de aula, e foram apresentados ao projeto pela Josy Tojo (que trabalha no Sistema Estadual de Museus, ativa na REM­‑SP desde a sua fundação, e que se sensibilizou por ser formada em Museologia pelo curso da ETEC). Ela visitou nossa escola para conversar com eles mais detalhadamente sobre as atividades das quais participariam. A ideia era que os alunos tivessem a oportunidade de acompanhar toda a programação gratuitamente, partilhando das narrativas e exposições de trabalhos, assim como participar dos debates com profissionais da área acerca do campo da Educação em Museus. Em contrapartida, pediu­‑se aos alunos que fotografassem todas as atividades de que participassem, a fim de que as organizadoras tivessem um registro do evento sob o olhar de quem está apenas como ouvinte; essas fotos também seriam divulgadas na página do evento, posteriormente. Pediu­‑se, também, aos três voluntários que apresentassem para a comissão organizadora, ao final, um relatório no qual expusessem suas impressões sobre o evento. A fim de consolidar essa parceria entre a ETEC e a REM­‑SP, também vinculamos a participação dos alunos no II Encontro da REM­‑SP com um Seminário semestral que acontece na ETEC, na Semana de Museus, de modo que os alunos apresentaram suas experiências no estágio, para os outros alunos do curso de Museologia, para os professores e para outros participantes convidados do Seminário, consolidando essa prática como didática legítima e acadêmica.

Assim, participaram do projeto três alunas do segundo módulo do curso, todas meninas, por coincidência – Carolina Rosa Lima, Alicia Karina Dias Silva e Eloise Pastore –, que estiveram presentes em todas as etapas do evento. Houve a noite de abertura e, no segundo dia do evento, na parte da manhã, cada uma se direcionaria para um dos museus a serem visitados. Como fui uma das organizadoras, minha responsabilidade era acompanhar a proposta que se encaminharia no Museu de Arte Sacra, e comigo esteve Carolina Rosa Lima. Deixei que cada uma escolhesse para onde iria, a fim de que elas escolhessem o museu de maior afinidade e curiosidade. Assim, Alicia Karina Dias Silva acompanhou a programação no Instituto Tomie Ohtake, e Eloise Pastore foi ao Museu Paulista.

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As oficinas que aconteciam nesses museus contavam com a participação de educadores de museus das mais diversas tipologias, os quais também haviam escolhido previamente qual museu gostariam de acompanhar mais de perto. Os educativos dos museus recebiam os grupos de educadores participantes do encontro e apresentavam as principais atividades educativas desenvolvidas pela instituição. No caso do museu que acompanhei, eles estiveram bastante atentos e interessados em apresentar os jogos educativos feitos pela própria equipe a partir da temática do acervo, buscando realizar ações mediadoras para aproximar o público. Com base nos relatos das alunas, pudemos constatar que cada um dos museus esteve preocupado em realizar uma apresentação da história da instituição, das relações com o seu entorno, de seus projetos realizados em parceria com outras instituições, introduzindo os grupos no mundo educativo. A aluna Carolina me confidenciou – depois da experiência, voltando ao CPF­‑Sesc, onde se dariam as outras atividades do dia – que ela nunca havia participado de uma visita educativa em nenhum museu, e que havia se surpreendido por se sentir muito acolhida. Em seu texto ela narra a experiência no Museu de Arte Sacra desta forma: “a mediação com o grupo foi realizada no jardim da instituição, o que resultou numa sensação de relaxamento, uma vez que ouvíamos piar de pássaros e cacarejar de galos/galinhas e pudemos ficar mais à vontade para interagir entre os próprios participantes” (Lima, 2017).

Esse relato permite que se proponha uma reflexão acerca dos significados que uma mediação cultural pode ter e do que ela representa, um espaço de mediação, pensando­‑a como momento da conversa, da troca e da construção de conhecimentos com base em determinados elementos, materiais ou imateriais, ou a conjugação deles. Dewey (2010) afirma que a experiência sensível é a base da construção do ser e de sua participação na cultura. Assim, quando o mediador escolhe um lugar e planeja uma ação que pode ser uma possibilidade de experiência sensível, ele está criando um espaço­‑tempo significativo para a quebra de paradigmas, para descobertas em diversos âmbitos e para a reflexão sobre si com base no encontro com o outro.

A aluna Alícia, que em aula sempre parecia muito positiva com relação às suas vivências com educativos de museus – o que sempre fazia questão de ressaltar, visto que muitos alunos traziam experiências ruins para discutir em sala –, foi muito atenta em suas observações durante a oficina no Instituto Tomie Ohtake. Ela relata em seu texto: “o museu conta com recursos audiodescritivos a fim de possibilitar e/ou facilitar a relação do visitante com a ação desenvolvida, além de educadores criativos capazes de criar histórias utilizando elementos artísticos presentes no acervo, despertando de forma lúdica a imaginação e os sentidos dos participantes” (Silva, 2017).

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Nesse trecho de sua fala é possível traçar uma leitura sobre o entrelaçamento dos caminhos que percorrem os diferentes visitantes, com seus anseios e expectativas no encontro com a instituição, com abordagens, escolhas e estratégias que eles não esperavam. Também temos aí um ponto significativo para compreender os diferentes públicos e os diferentes museus. As narrativas das experiências vivenciadas pelas alunas foram disparadoras de reflexões sobre mediação cultural, portanto neste texto trago suas falas em diálogo com alguns autores a fim de fortalecer o amadurecimento sobre o conceito de mediação cultural e de sua prática.

Chego assim à fala da terceira aluna, pois não só me trouxe o sentido do meu trabalho, como também se tornou o fio condutor deste texto. Eloise Pastore seleciona como ponto mais importante da última palestra a expressão trazida por Valquíria Prates, “Educational Turn na virada social e na virada pedagógica”, apontando para um tipo de conhecimento específico que vem sendo desenvolvido pelos educadores de museus que circulam por diversas instituições e que desenvolvem um tipo de conhecimento específico. Ela se refere a um tipo de conhecimento que começa a ser desejado e que pode resolver questões sociais diversas, algo tão específico ao educador. Assim, me vi pensando em meu papel de educadora, sobre o que tenho levado das minhas experiências e, também, como tenho feito chegar toda essa experiência aos meus alunos. O II Encontro da REM­‑SP me possibilitou trazer um conhecimento prático às minhas alunas, elas poderão levar esse aprendizado em seus caminhos museológicos e de vida. Elas puderam partilhar dos conhecimentos e vivências de tantos educadores maduros profissionalmente, os quais já detêm esse saber específico para partilhar.

Foi nesse lugar que me percebi, tentando criar um ambiente propício para que os estudantes encontrassem algo especial participando do projeto. Fui percebendo que cada um encontraria algo diferente do que eu queria encontrar para mim, ou de qualquer coisa que eu quisesse para eles. Ser tutora/mediadora desse processo para os alunos, no II Encontro da REM­‑SP, foi um processo de muita aprendizagem para mim. Nessa linha de compreensão, Paul Ricœur (1986) afirma que “amediação cultural desempenha um papel fundamental no projeto de compreensão de si – compreensão esta que o museu facilita”, por isso lutamos tanto pelos educativos de museus.

Referências

DEWEY, John. Tendo uma experiência. In: . Arte como experiência. São Paulo: Martins Fontes, 2010. p.247-263.

LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Rev. Bras. Educ. [online], n.19, p.20-28, jan./fev./mar./abr. 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n19/n19a02.pdf.

RICOEUR, Paul. Du text à l’actions: essais d’herméneutique. Paris: Éd. du Seuil, 1986.

Capa

Rede de Redes – diálogos e perspectivas das redes de educadores de museus no Brasil

Sumário Ficha Técnica