
Nosso entendimento
Muitos museus paulistas e, em especial os dezoito museus geridos pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa de São Paulo (SCEC) em parceria com as Organizações Sociais de Cultura, cultivam e praticam ações de sustentabilidade como fruto de gestões responsáveis e comprometidas com os paradigmas internacionais explicitados nas dimensões social, cultural, econômica e ambiental do desenvolvimento sustentável. Porém são distintos os níveis de amadurecimento e apropriação nas cerca das quinhentas instituições museológicas existentes no território paulista, fato que nos impulsiona favoravelmente ao alinhamento com as diretrizes do potencializador Programa Ibermuseus de Sustentabilidade. Avaliamos como oportuna a proposição de uma política setorial da SCEC, explicitada e ancorada por dados de realidade, que sistematize e oriente as práticas museais para o desenvolvimento sustentável.
Propósitos e princípios
Reafirmar o lugar estratégico do museu como espaço de diálogo, debate e interação democrática e cidadã que instruem e potencializam o desenvolvimento sustentável no território, local e regional, em sincronia com a ampla rede de atores das políticas públicas culturais, sociais e ambientais. São princípios fundamentais dos museus:
- A valorização da dignidade humana;
- A promoção da cidadania;
- O cumprimento da função social;
- A valorização e preservação do patrimônio cultural e ambiental;
- A universalidade do acesso, o respeito e a valorização à diversidade cultural;
- O intercâmbio institucional.
(Art 2º da lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009, que institui o Estatuto de Museus).
Marco Conceitual Comum em Sustentabilidade
O Marco Conceitual Comum em Sustentabilidade (MCCS) materializa parte dos eixos de atuação do Programa Ibermuseus no que tange à Sustentabilidade. Sua elaboração considera e valoriza os antecedentes internacionais relativos à sustentabilidade das instituições e processos museais; as pesquisas preexistentes sobre a temática no âmbito iberoamericano; a configuração do ambiente institucional (leis, normas, instituições e políticas públicas) em interface com o tema, segundo cada país da região. São premissas consistentes e consensualmente elaboradas para orientar as definições de políticas e estratégias assim como a construção de indicadores. A proposta do Ibermuseus ainda ilumina experiências em curso orientadas por conceitos e valores relacionados ao desenvolvimento sustentável nas instituições e em alguns processos museais na Ibero – América. O MCCS distingue quatro dimensões para a abordagem sustentável: social, cultural, econômica e ambiental. A diversidade do contexto ibero-americano apresenta, ao lado de suas potencialidades, alguns desafios importantes para alcançar maior efetividade tais como: construir uma interpretação conceitual comum com diretrizes básicas para a gestão institucional do patrimônio cultural e natural; ampliar meios e condições para o planejamento de curto, médio e longo prazo; priorizar e aplicar com eficiência recursos financeiros para essa finalidade; investir em formação e aprimoramento de recursos humanos qualificados; dar maior abertura abertura à gestão participativa, dentre outros.
Ponto de partida na SCEC
Durante os seminários iniciais que contaram com a participação de técnicos da SCEC, de representantes de instituições museais nacionais e internacionais, de membros das Organizações Sociais de Cultura do Estado de São Paulo, de pesquisadores acadêmicos e profissionais de museus, pudemos refletir coletivamente sobre a gravidade das condições socioambientais do presente e ao mesmo tempo compartilhar experiências em curso de preservação e ressignificação do patrimônio cultural pautadas pela sustentabilidade e, ver em perspectiva as potencialidades abertas com a efetiva mobilização Iberoamericana de museus para o desenvolvimento sustentável. Os dois seminários foram realizados na sede da SCEC.
Seminário I: “SUSTENTABILIDADE EM MUSEUS: DO CONCEITO À PRÁTICA” (22 de novembro de 2019): O seminário foi centrado na Linha de Ação de Sustentabilidade das Instituições e Processos Museais desenvolvida pelo Ibermuseus, objetivando dar ciência e mobilizar os profissionais do campo museal para a importância do assunto, reconhecido como prioridade para a SCEC. Mesa técnica: Antonio Lessa, coordenador da UPPM; Patrícia Albernaz, representante do IBRAM; Roberta Saraiva, diretora do ICOM-Brasil e de Davidson Kaseker, diretor do Grupo Técnico de Coordenação do SISEM-SP. O programa está disponível na área de “Atividades Realizadas”.
Seminário II: “MARCO CONCEITUAL COMUM DE SUSTENTABILIDADE EM MUSEUS” (24 de janeiro de 2020): O seminário privilegiou, além das apresentações da mesa, o protagonismo de todos os presentes em grupos de trabalho organizados a partir das dimensões social, cultural, econômica e ambiental do desenvolvimento sustentável. Mesa técnica: Davidson Kaseker, diretor do Grupo Técnico de Coordenação do SISEM-SP; Renata Motta presidente do ICOM Brasil; Luiz Palma (UPPM). Após as apresentações os participantes reunidos em quatro grupos, a partir de leitura prévia do documento sobre o Marco Conceitual, puderam discutir pontos estratégicos e fazer proposições para a dimensão que coube a cada um dos grupos. Em plenária, os relatores apresentaram as propostas ensejando comentários e debates. O programa está disponível na área de “Atividades Realizadas”.
Resultados
De modo a prosseguir com a mobilização e a formação de grupos técnicos para avançar com as definições e diretrizes da Política Setorial de Gestão de Museus e Sustentabilidade, e dar inicio as etapas subseqüentes, apresentamos a seguir os primeiros itens produzidos e discutidos nos grupos:
Grupo I – DIMENSÃO AMBIENTAL
- Papel multiplicador dos museus como espaços que geram reflexões sobre a mudança de padrões em favor do meio ambiente;
- Desafio de converter-se em exemplo, a partir do qual se promovem seus compromissos com o meio ambiente e as comunidades;
- Redução de consumo de recursos energéticos não renováveis;
- Mitigação dos impactos ambientais no modus operandi;
- Reciclagem de materiais nas montagens de exposições;
- Redução de consumo de energia elétrica/água;
- Redução na geração de resíduos sólidos;
- Integração de aspectos ambientais nos temas de comunicação.
Grupo II – DIMENSÃO ECONÔMICA
- Gestão baseada em princípios éticos, por meio de escolhas conscientes que assegurem crescimento e longevidade;
- Gestão baseada em eficiência e eficácia, com sistemas de monitoramento que visam a sustentabilidade econômica;
- Otimizar os recursos financeiros no cumprimento de sua missão;
- Buscar o autofinanciamento por meio de prestação de serviços;
- Aprimorar-se como produto e como experiência para o turismo e recreação.
Grupo III – DIMENSÃO SOCIAL
- Escutar para aproximar;
- Mapear para conhecer;
- Consolidar parcerias;
- Integrar a comunidade com museu;
- Fortalecer a relação;
- Romper o isolamento;
- Conhecer e elaborar projetos integrados para uma ação conjunta e participativa;
- Observar os fatores que caracterizam a comunidade;
- Envolver os atores na responsabilidade de sustentar, estabelecer, preservar. Através de programas, projetos onde a participação de todos da maneira com a qual, cada um pode contribuir, com seu potencial e interesse em um trabalho coletivo, ou seja, um produto de estudo e desenvolvimento final;
- Fortalecer as ações educativas, pois as mesmas são estratégias fundamentais em busca de resultados positivos;
- Tornar visíveis as consequências, pois transformações precisam ser observadas e vistas para que se possa avaliar conteúdos e conhecimentos adquiridos;
- Expor,difundir resultados,pois somente quando há uma transformação, quando o resultado, finalmente é mostrado,ele alcança o sucesso,a confiança, a credibilidade.
Grupo IV – DIMENSÃO CULTURAL
- A cultura como fator de transversalização dos processos a partir das pessoas, das identidades, da interpretação do mundo, de maneira a assumir e resolver suas necessidades de expressão e de interação;
- Otimizar o melhor aproveitamento dos talentos humanos;
- Potencializar sua natureza formadora e preventiva;
- Valorizar a diversidade como vetor de transformação social;
- Repensar práticas, rever ações, debater, questionar, mobilizar e, sobretudo, participar socialmente na criação de uma cultura para construção de um mundo mais sustentável.
NOTA: Conforme previsto, ao final do Seminário II, a coordenação dos trabalhos recebeu a adesão de 23 participantes, com larga representatividade no campo museal, interessados em integrar o Comitê de Política e Diretrizes para a Gestão Sustentável em Museus.
Organização e Atribuições
Comitê de Política e Diretrizes para a Gestão Sustentável em Museus
Atribuições: Definição da Política e das Diretrizes para a Gestão Sustentável de Museus em alinhamento com os parâmetros nacionais e internacionais. Será formado por representantes e decisores das esferas da Administração Pública, profissionais dos museus paulistas – públicos e privados, membros de Organizações Sociais de Cultura, membros de conselhos e órgãos do setor museal, pesquisadores e especialistas.
Grupo de Trabalho para a Gestão Sustentável em Museus
Atribuições: Organização e Coordenação do processo de construção e implementação do Plano Estratégico para a Gestão Sustentável em Museus visando à concretização de objetivos em prazos determinados e momentos definidos. Será formado por representantes da UPPM/SCEC com participação programada de membros do Comitê de Política e Diretrizes para a Gestão Sustentável em Museus.
Abordagem Metodológica
O ato de planejar é um processo de reflexão e de decisão sobre um ou mais problemas da realidade que se pretende mudar com ações técnico-políticas. O planejamento define o caminho a percorrer para se alcançar os objetivos almejados e envolve um conjunto de iniciativas, entre as quais a elaboração de planos e projetos que devem ser readequados em todos os momentos do processo, inclusive durante a implementação, assim posto como uma circularidade de método.
O método escolhido para todo o processo é o PES – Planejamento Estratégico Situacional, de autoria de Carlos Matus[1]. O PES tem demonstrado resultados importantes quando aplicado no setor público, onde a presença de problemas interssetoriais complexos e mal estruturados prevalece. Trata-se de um processo metodológico potente e motivador de compromissos coletivos, cuja eficácia é garantida pela participação de todos os níveis decisórios nas atividades do “Jogo Social”, assim chamado o seu processo de construção. É um diferencial metodológico oportuno para a formulação, implementação e avaliação do Plano Estratégico para a Gestão Sustentável em Museus.
Apresentações Anteriores
Nos links abaixo, você poderá fazer o download e conhecer um pouco mais da iniciativa:
[1] Vide “Textos de apoio”.