Walter Firmo, João Câmara, Castro Alves e jovens artistas contemporâneos da Bahia estão entre os destaques das aberturas que também celebram os 15 anos da instituição. Juntas, mostras reúnem mais de 300 obras
O Museu Afro Brasil promove no dia 20 de novembro, a partir das 11h, a abertura de uma série de exposições em celebração ao Mês da Consciência Negra e em homenagem aos 15 anos da instituição.
Integram este largo panorama das artes plásticas do país as mostras: Castro Alves – 150 anos do poema O Navio Negreiro, instalação de Emanoel Araujo, As gravuras aquareladas de Rugendas – Doação de Ruy Souza e Silva, Walter Firmo – Ensaio sobre Bispo do Rosário, Rommulo Vieira Conceição – Tudo que é sólido desmancha no ar, A geometria de Paulo Pereira, Anderson AC – Pintura muralista e Elvinho Rocha – Pinturas do inconsciente. Um painel em homenagem aos 150 anos de nascimento da famosa mãe-de-santo baiana Mãe Aninha (Eugênia Anna dos Santos), fecha o núcleo brasileiro da mostra.
Já os artistas estrangeiros estão representados no conjunto de exposições por meio do trabalho de Alphonse Yémadjè e Euloge Glélé, ambos do Benim, que apresentam as individuais Alphonse Yémadjè – Símbolos dos Reis Ancestrais do Benim e Euloge Glélé – Esculturas dos Deuses Africanos do Benim. Completam a programação expositiva Arte Nativa – África, América Latina, Ásia e Oceania – Coleção Christian Jack-Heymès, que reúne máscaras e esculturas dos quatro continentes visitados pelo colecionador francês radicado no Brasil, e Melvin Edwards – Fragmentos linchados, formada por seis esculturas em ferro deste que é considerado um dos mais importantes artistas estadunidenses de sua geração.
* Castro Alves – 150 anos do poema O Navio Negreiro
Instalação criada por Emanoel Araujo, a obra homenageia os 150 anos do seminal
poema “O Navio Negreiro”, do poeta romântico e abolicionista baiano Castro
Alves (1847-1871). Realizada em diferentes planos, a instalação
tridimensionaliza a conhecida litogravura de Rugendas “Escravos negros no porão
do navio”, ladeada por plotagens de Hansen Bahia
(1915-1978), xilogravurista alemão radicado no Brasil, que
ilustram o suplício dos negros escravizados. Também integra a instalação o
áudio do célebre poema nas vozes de Caetano Veloso e Maria Bethânia, com
participação de Carlinhos Brown.
* As gravuras aquareladas de Rugendas – Doação de Ruy Souza
e Silva
As 12 litogravuras icônicas de Johan Moritz Rugendas (1802-1858), recentemente
doadas à coleção do Museu Afro Brasil pelo colecionador Ruy Souza e Silva,
contextualizam a vida da população negra escravizada do séculço XIX. Essas
imagens foram originalmente publicadas no luxuoso álbum “Voyage Pittoresque
dans le Brésil”, editado em Paris pela Casa Engelmann & Cie., entre 1827 e
1835. Rugendas chegou ao Brasil em 1821 como documentarista e desenhista
da Expedição Langsdorff, que percorreu 16 mil km pelo interior do país com
objetivo de constituir um inventário completo do Brasil.
* Walter Firmo – Ensaio sobre Bispo do Rosário
Interno por quase toda sua vida na Colônia Psiquiátrica Juliano Moreira, no Rio
de Janeiro, o artista Arthur Bispo do Rosário (1911-1989) foi retratado neste
comovente e único ensaio fotográfico produzido por Walter Firmo no ano de 1985.
As imagens expostas captam extraordinários momentos de Bispo, prolífico criador
em sua expressividade, muito além de seu inconsciente criativo. No total, a
mostra apresenta 23 fotografias.
* Rommulo Conceição – Tudo que é sólido desmancha no ar
Um conjunto de fotografias da série “Entre o espaço que eu vejo e o que
percebo, há um plano”, de 2016-2017, desenhos sobre fotografias da série “Tudo
que é sólido desmancha no ar”, de 2017, e duas esculturas/instalação, entre ela
“Duas pias, ou quando o lugar se transforma em conteúdo”, compõe a individual
do artista baiano radicado no Rio Grande do Sul.
* A Geometria de Paulo Pereira
Vinte e nove esculturas trazem a público a geometria de caráter quase minimalista
da produção do artista. Sua produção é caracterizada por um jogo entre forma e
conteúdo a partir do uso de madeira escura como o jacarandá, aliada a cortes
metálicos de movimentos sinuosos que alimentam uma imaginação construtiva que
torce formas côncavas e convexas.
* Anderson AC – Pintura Muralista
Um total de 14 obras, entre pinturas e infogravuras, colocam o público em
contato com a pintura espessa e expressionista do artista baiano, cuja
produção, marcada pela consciência de um mundo cheio de diferenças sociais, se
relaciona com a produção de murais urbanos.
* Elvinho Rocha – Pinturas do inconsciente
Élvio Rocha exibe 44 obras, entre pinturas em tinta acrílica sobre tela e
guaches sobre papel, que mostram sua representação dos símbolos guardados em
seu subconsciente. “Mais que pintura, essa é a revelação de uma mente sequiosa
de se comunicar com o universo da criação artística”, escreve Emanoel Araújo,
curador da mostra individual.
* Euloge Glélé – Esculturas dos Deuses Africanos do
Benim
Conhecido pelas esculturas de máscaras tradicionais dos gèlèdes, o artista
natural do Benim apresenta nesta individual 21 estatuetas de argila cozida com
representações de personagens de cerimônias tradicionais encontradas nos
terreiros dos povos fon.
* Alphonse Yémadjè – Símbolos dos Reis Ancestrais do
Benim
Nesta individual, o veterano artista africano apresenta 10 obras criadas a
partir do aplique ou “appliqué”, técnica de junção, justaposição, costura ou
enlace de materiais têxteis sobrepostos, cujo conjunto resulta num verdadeiro
livro de histórias em quadrinhos.
* Arte Nativa – África, América Latina, Ásia e Oceania
Na exposição são apresentadas 51 esculturas, além de tecidos, indumentária
tradicional e colares do antiquário e colecionador francês de arte tribal,
radicado em São Paulo desde os anos 1970. O raro e precioso conjunto de peças
revela as descobertas de Christian em suas inúmeras viagens por diferentes
continentes. O livro “Fetiches – diário de uma coleção de arte tribal” é uma
primorosa edição de autor e tem distribuição pela Editora Olhares.
João Câmara, Rap e Samba no Dia da Consciência Negra
Também será aberta no dia 20 de novembro, às 11h, no Museu Afro Brasil, a exposição “João Câmara – Trajetória e Obra de um Artista Brasileiro”. Com curadoria de Emanoel Araujo, a mostra apresenta um conjunto com cerca de 50 obras (entre pinturas e litografias) do artista paraibano radicado em Pernambuco e conhecido por refletir em sua obra as raízes da cultura nacional.
No mesmo dia, paralelamente à abertura das exposições, acontece do lado externo do Museu Afro Brasil, às 11h, apresentação do bloco “Pega o lenço e vai”, de Mauá. O período da manhã do dia 20 reserva ainda o lançamento do livro “Fetiches – Diário de uma coleção de arte tribal”, de Christian-Jack Heymès.
Às 16h, no Auditório Ruth de Souza, o premiado MC, poeta e produtor paulista Rincon Sapiência, encerra a programação do dia com um bate-papo aberto ao público. No encontro, o artista falará sobre as influências musicais do oeste africano presentes no single “Meu Ritmo”, seu mais recente videoclipe. Participa do encontro a pesquisadora de danças e ritmos africanos, Kety Kim Farafina.
Serviço
Museu Afro Brasil celebra seus 15 anos e o mês da
consciência negra com a abertura de um conjunto de exposições
Data: 20 de novembro, às 11h
Local: Museu Afro Brasil
Endereço: Parque Ibirapuera, Portão 10
Entrada: Gratuita
Fonte: Sec. de Cultura de SP